terça-feira, 7 de maio de 2013
A experiência de aplicar os decalques caseiros e artesanais em um modelo alternativo
No início do ano passado eu realizei alguns testes com decalques artesanais, feitos em casa, para amenizar os erros de pintura que comumente eu cometia em meus modelos, e eliminar a necessidade de retoques constantes na pintura de fundo, quando utilizava pincéis para correção.
A necessidade do uso de decalques advém da dificuldade de se pintar sobre as superfícies irregulares dos aviões, com suas formas aerodinâmicas arredondadas, e muitas vezes a dificuldade de se encontrar um suporte ou posição de pegada firmes para um trabalho de pintura com pincéis ou aerógrafo. Para quem pinta seus modelos inteiramente a mão (sem usar impressão por computador, e sem comprar decalques na mão de terceiros), para quem gosta de construir seu modelo inteiramente sozinho, ou mesmo para quem precisa de decalques em escala personalizada, e não gosta dos resultados da impressão computadorizada, saber produzir decalques pode ser uma boa pedida. Além disso, quando construímos modelos alternativos, nem sempre utilizamos os materiais para os quais as soluções comerciais de decalque foram planejadas. Desta forma, produzir decalques com os mesmos materiais e tintas utilizados na pintura do modelo pode oferecer melhores resultados que o uso de uma opção comercial.
Os resultados de minhas experiências anteriores, embora promissores, não forneceram um método de decalque completamente limpo e funcional, com as tintas acrílicas que emprego na pintura de meus modelos. Encerrei então as experiências, temporariamente...
Quando completei a construção de meu modelo alternativo em escala 1/32, de um Hawker Hurricane MK-I que serviu na Batalha da Grã Bretanha, durante a Segunda Guerra Mundial, eu tive a possibilidade de continuar as experiências com os decalques . Mais que isso... Pela primeira vez eu tentava executar um esquema de cores original da segunda guerra, e para obter maior precisão de escala, e não correr mais riscos, eu necessitava utilizar os decalques, de forma que as insígnias e marcações do modelo ficassem o mais próximas possível da pintura original. Marcar com lápis os contornos das insígnias sobre a pintura de fundo, se não era arriscado, era pelo menos difícil, e retocar uma camuflagem feita com aerógrafo seria quase impossível, na medida em que eu não possuo um aerógrafo específico para reprodução de pequenos detalhes. Devido a isto, as insígnias deveriam ser pintadas, fora do modelo!
Recorrendo às experiências antigas, eu produzi uma superfície de teste, pintada e preparada da mesma forma que eu preparo meus modelos para pintura, e realizei alguns testes com papéis impermeáveis diversos, e bases de pintura feitas de cola branca, ou de uma mistura de cola branca e álcool etílico, que costumo utilizar para impermeabilizar meus modelos.
Como afirmei em meu artigo anterior, sobre aplicação de decalques caseiros, tais decalques deveriam ter algumas características ótimas, para que pudessem ser aplicados a uma superfície pintada.
Recordo que um decalque deveria ser mais fino que um adesivo, de forma a justificar seu uso, contra o uso de colagens. Este deveria ser também flexível e resistente, muito aderente à superfície pintada e pouco aderente à superfície aplicadora, de forma a soltar-se da última, sem danificar ou desprender-se da primeira. Adicionalmente, seria interessante que a base de pintura não modificasse a cor das tintas utilizadas nas gravuras, e que o decalque pudesse ser aplicado depois de completamente seco.
É bastante difícil alcançar de forma ideal a todos estes objetivos, e algumas soluções de compromisso devem ser buscadas, de forma a produzir um decalque aplicável.
Dos materiais disponíveis, os que melhor se prestaram à solução destas necessidades acima expostas foram o papel manteiga (da traseira de adesivos), a cola branca e a mistura de cola branca com álcool etílico (ver referências no artigo de aplicação de decalques caseiros ).
O papel manteiga dos adesivos é caro, pois os adesivos em si são caros, e nunca encontrei tal papel à venda separadamente. O papel manteiga comumente vendido nos supermercados (culinário) e em papelarias não foi liso o suficiente para o uso com decalques , e o uso de gorduras e óleos para impermeabilizar o papel só funcionaria com tintas à base de óleo, ou solventes polares... Eu necessitava assim de uma forma diferente de impermeabilizar o papel, ou estaria preso ao uso de papel de adesivo! Resolvi encerar o papel, como já havia proposto anteriormente.
Seguindo as experiências acima expostas, e de posse da superfície de teste devidamente preparada, realizei algumas experiências com papel sulfite e papel manteiga culinário encerados com cera incolor para assoalho (Cera Inglesa®), papel manteiga de adesivos, cola branca e mistura de cola branca e álcool. Destas experiências, os materiais que se saíram melhor foram o papel sulfite encerado, e a mistura de cola e álcool.
Os resultados de cada experimento são expostos a seguir:
Os resultados Obtidos
As combinações de materiais para decalque são as seguintes:
Papel manteiga de adesivo com cola branca
Papel manteiga de adesivo com mistura de cola e álcool
Papel manteiga culinário com cola branca
Papel manteiga culinário com mistura de cola e álcool
Papel manteiga culinário encerado com cola branca
Papel manteiga culinário encerado, com mistura de cola e álcool
Papel sulfite encerado e polido, com cola branca
Papel sulfite encerado e polido, com mistura de cola e álcool
Papel sulfite encerado e polido, com pintura direta e reforçada com cola e álcool
Destas combinações, as de número 3 e 4 não transferiram figura alguma, pois o papel manteiga culinário não foi liso e impermeável o suficiente para o cumprimento das exigências de aderências diferentes entre as superfícies.
As opções 5 e 6 não produziram bons resultados... Deve-se observar que este processo de decalque consiste na produção de uma película transparente, sobre a qual se aplica pintura, e que se apóia sobre uma superfície aplicadora para a qual só tem aderência suficiente para não se desprender durante a manipulação e pintura. Esta opção de papel se portou bem quanto à aderência à película, mas o papel manteiga culinário é extremamente fino, e este não forneceu um suporte adequado à pintura, assim como se rasgou em todas as tentativas de aplicação, além de não ter sido firme o suficiente para dar acabamento ao decalque terminado. Como assim? Bem, a aplicação da base para pintura vinha sendo feita sobre a folha de decalque inteira. Desta forma, a película é contínua, embora nem sempre a figura pintada o seja. Nas áreas sem pintura do decalque é conveniente remover a película, para evitar alterações da cor de fundo do modelo. Isto é feito cortando a película com uma faca alfa, sem ferir o papel. As opções 5 e 6 não reagiram bem a este trabalho, facilitando tanto o rasgamento do papel durante a aplicação, quanto o rompimento da película, destruindo o decalque.
As opções 1 e 7, embora não tenham apresentado problemas mais graves, produziram uma película menos elástica e resistente que as de mistura de cola e álcool, além de um acabamento pior, e com mais brilho reflexivo. A cola não se espalhou uniformemente sobre o papel manteiga de adesivo. Quando diluída, a cola demorou muito a secar, e se aglutinou em alguns pontos da superfície. Para aplicação com aerógrafo, a cola, muito densa, deve ser muito diluída, e os resultados foram também pouco adequados, embora bem melhores que no caso da aplicação com pincel... Aparentemente a mistura de cola e álcool seca tão rápido que não dá tempo de se reorganizar sobre a cera, ou mesmo, sua reação à diferença de polaridade da superfície é bem mais lenta, dando tempo de secagem, antes que a mistura se aglutine sobre a superfície oleosa.
A segunda opção, ou seja, a mistura de cola e álcool sobre papel manteiga de adesivo funcionou adequadamente, portando-se de forma semelhante aos testes que realizei no princípio do ano. Este papel, entretanto, é tão liso que causa grande brilho na película de cola e álcool. Isto é, em minha opinião, um aspecto negativo pois altera o aspecto da pintura realizada, tornando mais difícil a visualização de insígnias expostas à luz direta.
A oitava opção, ou seja, a aplicação de mistura de cola e álcool sobre sulfite encerado portou-se quase exatamente igual à segunda opção, porém produziu uma película menos refletora e menos brilhante. Desta observação, podemos tirar que o uso do sulfite encerado é mais propício que o do papel manteiga de adesivo, tanto por seu comportamento físico, quanto pelo preço final da produção dos decalques. Em todos os casos acima citados, entretanto, o acabamento do decalque cortando-se a película nas áreas em que esta é desnecessária, acabou ferindo um pouco o papel, e causou sujeira visual e algumas dificuldades de aplicação bastante incômodas. Esta oitava opção também não escapou deste problema, o que diminuía o sucesso deste método de decalque, desde os testes do início do ano. Uma inovação, entretanto, amenizou este problema. Bastava re-encerar o papel exposto pela retirada da película, evitando assim que este se colasse à superfície pintada.
A nona opção surgiu da necessidade de resolver o problema de acabamento citado acima. Trata-se de uma opção ao método de remoção da película e re-encerado. Com a aplicação direta da tinta sobre o papel encerado, fica demarcada a área onde será aplicada a mistura de cola e álcool. Esta aplicação ainda é necessária, pois a película de tinta, sozinha, é muito frágil e quebradiça. Este método torna ainda especialmente fácil garantir a aplicação da mistura de base somente nas áreas pintadas, produzindo um excelente acabamento. Esta opção não foi escolhida, entretanto, por oferecer menor segurança que a oitava opção, pois este tipo de decalque, embora tenda a reproduzir ainda melhor as cores, é o que tem maiores possibilidades de rompimento da película, entre os três últimos métodos apresentados...
O decalque final aplicado
Após definir-me pela utilização da oitava opção de decalque, ou seja, a mistura de cola branca e álcool etílico, aplicada sobre papel sulfite encerado, eu produzi uma série completa de decalques para o Hawker Hurricane, e apliquei sobre o modelo.
As figuras foram pintadas com pincel, e compostas por tinta acrílica diluída em água, nas diferentes cores das insígnias.
Sobre a camada de tinta, eu re-apliquei a mistura de cola e álcool, para dar reforço. Ambas as duas aplicações de cola + álcool foram realizadas com aerógrafo, e a mistura estava levemente diluída em álcool.
Após a secagem completa dos decalques, eu dei acabamento recortando a película com uma faca alfa, e re-encerei as partes de papel expostas.
Esperei secar por 1 noite...
Passei cola branca somente sobre a película de cola e álcool, e apliquei sobre o modelo.
Cerca de 15 minutos depois, comecei a tentar retirar os decalques... A pressa, entretanto, danificou um dos decais, descolou completamente outro, e dificultou a remoção das bases aplicadoras. Um desastre? Não! Tudo pôde ser corrigido com um pouquinho de jeito, e fica o aprendizado de que é necessário esperar pela secagem completa, pois quanto mais eu demorei para remover os papéis encerados, melhor ficou o resultado das aplicações.
Considerações finais
Desta experiência de decalque sobre o Hawker Hurricane, percebe-se que o método de decalque utilizado ainda não é totalmente adequado. Uma solução plausível para os problemas encontrados, ou seja, a dificuldade de remoção do papel encerado, é simplesmente esperar mais tempo, para que o decalque seque por completo...
Para melhorar o acabamento, eu sugiro desenhar a insígnia no papel sulfite antes do encerado, de forma a poder aplicar a mistura de cola e álcool somente nas áreas a serem pintadas, e nas áreas interiores do decal. (ou seja, aplique a mistura nos interiores de letras e entre figuras muito próximas. Isto facilitará na hora da remoção!). Além disso, evite a todo custo a remoção da película com faca alfa, pois mesmo re-encerando o papel exposto, o resultado não ficará completamente bom.
Eu encorajo qualquer um que queira experimentar esta técnica a ler a página de meu tutorial de técnicas: Técnicas de pintura, onde está descrita em detalhes e passo a passo a técnica final de decalque, com as devidas correções. Lá está exibida a nona opção de técnica presente neste artigo, com uma pequena alteração: um reforço duplo da camada de tinta.
Eu ainda devo advertir que a aplicação deste tipo de decalques possui suas especificidades. Nunca aplique o decalque diretamente sobre um trabalho terminado. Experimente a técnica antes, sobre uma superfície de teste, para saber se ela funcionará para você, e seus materiais. Esta precaução é também importante para você se acostumar às particularidades da aplicação dos decalques .
Com capricho e cuidado, é possível obter excelentes resultados através desta técnica de decalque.
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